Com receio de perder privilégios adquiridos com as reformas ocorridas nos últimos dois anos, Sky apela e convoca trabalhadores para se manifestar contra o ex-presidente
Fonte: Contracs
A Sky Brasil, empresa concessionária de serviços de telecomunicações que trabalha com TV por assinatura via satélite e internet banda larga 4G, enviou um comunicado liberando os funcionários de todo o país a participar de uma manifestação contra o ex-presidente Lula, organizada pelo movimento Vem pra Rua, um grupo de extrema direita brasileiro, nesta terça-feira (3), um dia antes de o Supremo Tribunal Federal (STF) retomar o julgamento do pedido de habeas corpus preventivo de Lula.
Funcionários da Sky criticaram o comportamento da empresa, segundo eles, interessada apenas em aumentar cada vez mais os lucros e reduzir direitos dos trabalhadores e trabalhadoras.
“Não é a toa que o chamamento do grupo de direita é ‘ou você vai, ou ele volta’”, disse uma ex-funcionária da empresa que, por motivos de segurança, pediu para não ser identificada.
A Sky, pelo que conta a trabalhadora, está no grupo de empresas golpistas interessadas em explorar trabalhadores e ignorar os interesses dos consumidores. Ela conta que trabalhou dois anos na concessionária e a sua tarefa principal era impedir que clientes insatisfeitos cancelassem suas assinaturas. Tinha até meta para isso, conta a trabalhadora.
“Trabalhei na Sky entre 2003 e 2005, como operadora de telemarketing, fazendo o que eles chamam de anti-atriction. Isso significa que a gente tem de reter cancelamentos de assinaturas. Nossa missão era segurar 87% dos clientes que pediam a suspensão dos serviços”.
Para cumprir as metas agressivas, os operadores trabalhavam de segunda-feira a sexta-feira, das 8h às 14h15. “Tínhamos 14 minutos e 59 segundos de pausa para comer, ir ao banheiro, recarregar garrafa de água, entre outras coisas necessárias como fazer a higiene pessoal. A gente andava com um cronômetro no pescoço”, diz a operadora.
“Eles [Sky] estão desesperados porque sabem que se o ex-presidente Lula voltar, essa exploração toda vai acabar”, diz ela lembrando que Lula já afirmou diversas vezes que, se eleito este ano, pretende convocar referendos para revogar as reformas sociais e trabalhistas realizadas pelo governo Michel Temer.
Segundo a trabalhadora, além da exploração da mão de obra, ocorreu muito assédio moral nesse período em que trabalhou na Sky. Ela relatou à reportagem do Portal CUT, era frequente ver algum colega engolindo o almoço e correndo para não estourar a pausa de quase 15 minutos por turno.
“Tínhamos uma “variável” de 100% do salário caso cumpríssemos as metas de 87% de retenção, avaliação positiva do coordenador e tempo médio de atendimento que era de dois minutos. Ou seja, se um cliente te segurasse na linha por 10 minutos para contar o motivo do cancelamento, você estava lascada”, lembrou e prosseguiu: “não podemos comer durante o serviço e beber água é muito raro porque não se tem tempo de ir ao banheiro em função do monitoramento das metas. Quando estamos menstruadas, por exemplo, colocamos um absorvente interno e um noturno porque não temos tempo de fazer a higiene”.
Para ela, a pressão da empresa em convocar os funcionários de todo o país a participar desse tipo de manifestação é uma forma de coagir os empregados que ainda trabalham sob o regime de carteira assinada.
“Ainda tem gente empregada com o registro CLT. Esses estão com medo de perder o emprego, ou seja, irão participar provavelmente para garantir o salário nesses tempos de altos índices de desemprego e trabalho informal”.
O tempo de vida no call Center por conta dessas metas agressivas, segundo constatou a fonte, é curto e voltado principalmente para jovens que recém entraram na universidade.
“Essa é a minha história e de várias outras pessoas e essas práticas não mudaram até hoje”, lamentou.
Conforme divulgado no site dos Jornalistas Livres, a Sky foi fundada por Roberto Irineu Marinho em 11 de novembro de 1996.
Atualmente suas ações estão divididas entre a DirecTV Latin America (93%) e o Grupo Globo (7%). O atual presidente da empresa é Luiz Eduardo Baptista P. da Rocha, alcunhado de Bap. Para que se tenha uma ideia do potencial mobilizador da empresa, basta dizer que tem faturamento anual de US$ 4 bilhões, aproximadamente 2.000 funcionários e mais de 55.000 colaboradores (dados do Meio&Mensagem 2016).