As taxas de mais de 500% ao ano no cheque especial afastam os clientes, derrubam o consumo, a atividade industrial e, consequentemente, as chances de aquecimento da economia
Fonte: CUT
A Selic (taxa básica de juros da economia brasileira) vem caindo há um ano e quatro meses, mas os juros do cheque especial são de mais de 500% ao ano e estão 324% mais altos do que os dos empréstimos pessoais.
O Brasil, apesar da propaganda do governo ilegítimo de Michel Temer (MDB-SP), continua sendo um dos países com juros mais altos do mundo. Na Inglaterra, berço do neoliberalismo, os bancos são proibidos de cobrar em qualquer tipo de empréstimo taxas que ultrapassem o dobro do valor do empréstimo contraído. Já na Espanha, o Santander chegou a deixar de cobrar os juros do cheque especial durante seis meses, bem diferente do que as filiais brasileiras.
O economista e consultor da Fundação Perseu Abramo, Marcelo Manzano, diz que os bancos brasileiros cobram juros extorsivos porque a direção do Banco Central é comandada por um profissional oriundo do sistema financeiro.
“O ex-presidente do BC, Henrique Meirelles”, diz ele, “foi diretor do banco de Boston e dono do Original. O atual presidente da instituição, Ilan Goldfajn, foi economista chefe e sócio do Itaú”.
Para o economista, a maneira de se romper esse círculo vicioso seria os bancos públicos, como Caixa Econômica Federal (CEF) e Banco do Brasil (BB), oferecerem créditos com juros menores, como os “forçou” o ex-presidente Lula, durante a crise econômica internacional de 2008. À época, os juros dos bancos públicos eram de 5% ao mês, hoje estão em torno de 11 e 13%.
“Os bancos públicos estão atuando como os privados, num mercado extremamente concentrado. Apenas quatro bancos: Itaú, Bradesco, CEF e BB são responsáveis por 80% do volume de crédito oferecido no país. Isto é oligopólio. Há um acordo de cavalheiros entre eles”, afirma Marcelo.
Outro fator que precisa ser levado em consideração, segundo o economista, é a crise econômica, intensificada com a crise política que começou depois das eleições de 2014 e terminou com o golpe de Estado, em 2016. Com a crise política e econômica, o volume de crédito para pessoa física caiu 46% em relação ao PIB, mesmo com a taxa Selic em 6,5% – menor patamar desde 2016.
Enquanto as instituições financeiras têm mais poder no governo golpista que contribuíram para colocar no poder, os consumidores fogem dos empréstimos, deixam de consumir e a economia fica estagnada.
“O sistema financeiro faz o que quer no Banco Central, e quem paga é a população endividada”, diz a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf/CUT), Juvandia Moreira.
Para ela, os bancos cobram altas taxas porque “detêm um poder muito grande nesse governo, ao articularem o golpe de 2016, que retirou Dilma Rousseff da Presidência da República”.
“Não se resolve o problema do endividamento trocando o cheque especial pelo empréstimo pessoal, como alguns sugerem. É preciso que o Brasil volte a crescer e as pessoas voltem a ter trabalho”, avalia Juvandia.
Não é o que o atual governo vem fazendo. Análise da evolução do crédito no período recente – 2014-2017, feita pelo DIEESE, mostra que a recessão econômica profunda e longa, com quedas no PIB em 11 trimestres consecutivos, acompanhada de uma crise política e de mudança na condução da política econômica do último período, alteraram a tendência de crescimento do crédito, que vinha ocorrendo no período anterior a 2014. E para crescer, o governo deveria usar os bancos públicos como instrumento de política econômica anticíclica, como foi feito nos governos Lula e Dilma. No período pós-crise financeira de 2008, essas instituições foram fundamentais para fomentar o consumo, a atividade industrial e manter o crescimento econômico. Já no momento atual, apresentaram comportamento pró-cíclico e aprofundaram a retração da economia, reduzindo a oferta de crédito.
O consultor da Fundação Perseu Abramo, Marcelo Manzano, concorda com a análise. Segundo ele, cada vez mais brasileiros estão deixando de contrair empréstimos com receio de não conseguir pagar as prestações. “Já os bancos, para não deixarem de ganhar mais, aumentam as taxas de quem contrai um empréstimo ou se utiliza do cheque especial. Perdem em número de clientes, mas ganham no valor cobrado”.
“Isso é ruim porque demonstra que o consumo vem caindo, e neste momento, é fundamental que os juros sejam reduzidos, aumente o volume de empréstimo e se incentive o consumo. É uma anomalia porque falta regularização do sistema financeiro e o Banco Central é permissivo. Está tudo do avesso”, diz Manzano.