A VIII Semana da Diversidade Sexual começa nesta segunda-feira (23) e terá várias atividades voltadas ao público LGBT como palestras, rodas de conversas, exposições, oficina de costura, curso de drag queen e aula de defesa pessoal. O encerramento será marcado pela 2ª Parada do Orgulho LGBT, no Centro de Santos, no dia 29.
Todas as atividades ocorrerão em espaços públicos e serão gratuitas. O tema será “50 anos de Stonewall: Viver! Amar! Lutar!!”, uma referência aos cinquenta anos do incidente ocorrido no bar americano “Stonewall” (uma série de manifestações espontâneas de membros da comunidade LGBT contra uma invasão da polícia de Nova York), que transformou-se no marco da luta pelo respeito e igualdade dos LGBTs em todo o mundo.
Segundo Taiane Miyake Alves de Carvalho Rocha, coordenadora executiva da Comissão Municipal de Diversidade Sexual, o objetivo é fortalecer a luta pela resistência e pelos direitos da população LGBT, além de promover o respeito e a cidadania por meio da conscientização. “Estamos preparando um evento que vai além de uma festa. Queremos que seja um espaço de celebração à vida, ao amor e à luta por direitos e respeito. No ano passado, a primeira parada da Cidade reuniu em torno de duas mil pessoas. A expectativa é de recebermos um número ainda maior para a edição deste ano”.
O evento é organizado em parceria com as secretarias de Desenvolvimento Social e Cultura, com apoio do Sesc-Santos.
Programação
Dia 23 de setembro
- Abertura da Semana
- Palestra: Adoção homoafetiva Palestrante: Dr. Carlos Alberto Carmello Jr. – 12º Promotor de Justiça de Santos
Horário: 18h30
Local: Câmara Municipal- Auditório Zeny de Sá Goulart (Praça Tenente Mauro Batista de Miranda – Vila Nova).
- Exposição de fotos: Com muito orgulho
De 23 de setembro a 3 de outubro, das 14h às 20h
Local: Miss – Museu da Imagem e do Som de Santos (Avenida Pinheiro Machado, 48 – Vila Mathias)
Dia 24 de setembro
- Roda de Conversa: Acolhimento de mães. Pais e população LGBT
Palestrantes: ONG Mães pela Diversidade, Pais Afetivos, Eternamente Sou, Casa 1 e Casa Florescer
Horário: 18h30
Local: Sesc – Santos
Dia 25 de setembro
- Atividade: Ateliê aberto de costura
Horário: 16h
Local: Sesc- Santos
- Oficina: Juventude, relações na escola e enfrentamento da LGBTfobia
Facilitadores: Bruna Reis, Priscilla Karaver e Gabriela Borges (Estudantes Unifesp)
Coordenação: Prof. Dra. Cristina Gonçalves da Silva e Prof. Dra. Patrícia Lemes O. Borba.
Horário: 18h30
Local: Sesc-Santos
Dia 26 de setembro
- Atividade: Ateliê aberto de costura
Horário: 16h
Local: Sesc-Santos
- Oficina: Visibilidade trans: inclusão e cidadania
Palestrantes: Maitê Schneider – Cofundadora da plataforma Transempregos, Taiane Miyake – Coordenadora Executiva da Comissão Municipal de Diversidade Sexual de Santos Flávia Bianco – Ativista, Palestrante e Articulista e Murilo Thomaz – Barbeiro
Horário: 18h30
Local: Sesc-Santos
Dia 27 de setembro
- Atividade: Ateliê aberto de costura
Horário: 16h
Local: Sesc-Santos
- Atividade: Curso de drag queen
Horário: 18h
Local: Sesc-Santos
- Documentário: Meu corpo é político (2017) Bate-papo após a exibição
Horário: 18h30
Local: Sesc-Santos
Dia 28 de setembro
- Atividade: Curso de drag queen
Horário: 10h
Local: Sesc-Santos
- Atividade: Orientação jurídica – diversidade e direitos Realização: IBDFAM – Santos
Horário: 14h30
Local: Miss – Museu da Imagem e do Som de Santos
- Apresentação do livro: Barebacking sex: a roleta russa da Aids?
Palestrante: Paulo Sérgio Rodrigues de Paula – Psicólogo pela Unesp, Mestre e Doutor
Horário: 14h30
Local: Miss – Museu da Imagem e do Som de Santos
- Atividade: Aula de defesa pessoal para LGBT
Professor: Octaciano de O. Neto – Especialista em segurança e professor de defesa pessoal urbana
Horário: 16h
Local: Miss – Museu da Imagem e do Som de Santos
- Palestra: Saúde sexual e reprodutiva: interesse de quem? Palestrante: Tais Costa Bento – Psicóloga e Mestre em Saúde Coletiva
Horário: 16h30
Local: Miss – Museu da Imagem e do Som de Santos
- Atividade: Personal drag – aula de performance
Horário: 17h30
Local: Sesc-Santos
Dia 29 de setembro (Encerramento da semana)
- Atividade: Curso de drag queen
Horário: 10h
Local: Sesc-Santos
- Evento: 2ª Parada do Orgulho LGBT de Santos. Tema: 50 anos de Stonewall: Viver ! Amar ! Lutar !
Horário: 12h
Concentração: Praça José Bonifácio – Centro Trajeto: Rua Braz Cubas, Avenida João Pessoa, Rua Dom Pedro II – Centro – Santos Chegada e apresentações: Praça Mauá – Centro.
Ideologia de gênero
Drauzio Varella
Mal começamos a entender a diversidade sexual humana, vozes medievais emergiram das catacumbas para inventar a tal “ideologia de gênero”.
Como nunca vi esse termo mencionado em artigos científicos nem nos livros de psicologia ou de qualquer ramo da biologia, fico confuso.
Suponho que se refiram a algum conjunto de ideias reunidas por gente imoral, para convencer crianças e adolescentes a adotar comportamentos homossexuais. Será que devo a heterossexualidade à inexistência dessa malfadada ideologia, nos meus tempos escolares? Caso existisse, eu estaria casado com homem?
Embora disfarcem, o que esses moralistas de botequim defendem é a repressão do comportamento homossexual que, sei lá por que tormentos psicológicos, lhes causa tamanho horror.
Para contextualizar a coluna de hoje, leitor, não falarei de aspectos comportamentais ou culturais, resumirei apenas alguns fenômenos biológicos ligados à sexualidade, uma vez que a diferenciação sexual é fenômeno de altíssima complexidade em que estão envolvidos fatores hormonais, genéticos e celulares.
Até a quinta semana de gestação, o embrião é assexuado. Só a partir da sexta semana é que as gônadas começam a se diferenciar. Se houver desenvolvimento de ovários, eles secretarão predominantemente estrogênios; se forem testículos, a produção predominante será de testosterona. Digo predominante, porque pelo resto da vida homens também produzirão estrogênios; e mulheres, testosterona, embora em pequenas quantidades.
Variações nesse delicado equilíbrio hormonal modificam os caracteres sexuais secundários, a anatomia dos genitais e o comportamento sexual.
Por outro lado, o conceito de que o sexo seria definido pela presença ou ausência do cromossomo Y é uma simplificação. Muitas vezes, os cromossomos sexuais não se distribuem igualmente entre as células do embrião. Da desigualdade, resultam homens com células XX em alguns órgãos e mulheres com cromossomos XY.
Talvez você não saiba, caríssima leitora, que fetos masculinos liberam células-tronco XY que cruzarão a placenta e se alojarão até no cérebro de suas mães, para sempre.
Quando a genética é levada em conta, as fronteiras sexuais ficam ainda mais nebulosas. Há dezenas de genes envolvidos na anatomia e na fisiologia sexual. A multiplicidade de interações entre os dominantes e os recessivos torna mais complexa a diversidade sexual existente entre homens, bem como entre mulheres, e faz surgir áreas de intersecção que tornam problemático para algumas pessoas definir sua sexualidade dentro dos limites impostos pela ordem social.
Como deveríamos então definir o sexo de cada indivíduo? Pelo binário dos cromossomos XX e XY? Pelos genes, pelos hormônios ou pela anatomia genital? O que fazer quando essas características se contrapõem?
Segundo Eric Vilain, diretor do Centro de Biologia Baseada em Gênero, na Universidade da Califórnia: “Na falta de parâmetros biológicos, se você quiser saber o sexo de uma pessoa, o melhor é perguntar para ela”.
Esses conhecimentos passam ao largo de grande parte da população. Para muitos, a homossexualidade é uma opção de gente sem vergonha. Repetem esse absurdo porque são ignorantes, sem a menor noção das raízes biológicas e comportamentais da sexualidade.
O argumento mais elaborado que conseguem usar como justificativa é o de que a homossexualidade não é fenômeno natural. Outra estupidez: relações homossexuais têm sido documentadas pelos etologistas em todas as espécies de mamíferos, e até nas aves, únicos dinossauros que sobreviveram à catástrofe de 62 milhões de anos atrás.
Assim como a heterossexualidade, a homossexualidade se impõe. Não é nem pode ser questão de escolha. É possível controlar o comportamento, mas o desejo sexual é água morro abaixo.
Nos dias assustadores em que vivemos, em que os boçais se orgulham das idiotices que vomitam com ares de sabedoria, vários demagogos se apropriaram do preconceito social, para criar a tal “ideologia de gênero”, com o pretexto de defender a integridade da família brasileira. Partem do princípio de que assim ganharão mais votos, uma vez que os iletrados são maioria num país de baixa escolaridade, infelizmente.
Mandar recolher livros e disputar a primazia do combate a essa ideologia cretina e sem sentido é apenas uma demonstração de arrogância preconceituosa tão a gosto dos pobres de espírito.
Folha de S.Paulo 15.09.2019_
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/drauziovarella/2019/09/ideologia-de-genero.shtml